No universo da moda, as tendências de cores e estilos são passageiras e isso faz girar a engrenagem de uma indústria que vive da novidade, tornando o passado descartável na maior parte das vezes. Para a atriz e empresária Deborah Secco, 45, sócia e embaixadora da rede de brechós Peça Rara, isso não vale para as roupas de segunda mão, um segmento que hoje cresce mais do que o da moda convencional.
Dentre as cinco empresas das quais faz parte, Secco afirma que o Peça Rara foi o que mais cresceu desde que entrou no negócio, em 2022. Na época, eram 17 lojas, hoje são mais de 180. A atriz diz que acredita tanto na moda circular que hoje quase todo o seu guarda-roupa é de peças seminovas.
Você é uma atriz famosa com uma agenda tomada. Tem tempo para cuidar dos negócios?
Há um tempo eu entendi que precisava tomar as rédeas da minha vida, que eu tinha que ser produtora das minhas obras. Porque a profissão de atriz é mais passiva, tem que esperar convites. E aí eu produzi os filmes Bruna Surfistinha e Boa Sorte.
Começou então a empreender na sua área?
Isso. Depois comecei a entender, quando fui mãe, que eu não podia botar todas as minhas fichas em uma área só porque, quando você tem alguém que depende de você, sua responsabilidade aumenta. Então, entrei como sócia na Singu [marketplace de serviços de beleza e bem-estar]. Este foi meu primeiro flerte com os negócios.
As empresas nas quais você tem participação são de diferentes segmentos. O que elas têm de comum com você?
Conversam comigo. Todos os negócios aos quais eu me associei surgiram de uma necessidade minha.
Como assim?
A Peça Rara começou no momento em que eu tive minha filha. Não consigo dar a ideia do tanto de presentes que eu ganhei quando engravidei. E, em um mês e meio, a Maria [sua filha] tinha perdido dois armários de presentes sem nunca ter usado. E aí eu comecei a entender que tinha um buraco aí. Imagine quantas mães estavam com a mesma demanda que eu.
O caso da Mais Cabello foi a mesma coisa. Eu tenho alopecia androgenética [calvície]. O Espaço Facial tem a ver comigo porque eu vivo da minha imagem. A Aceleraí é uma empresa de publicidade democrática, que também faz parte do meu mercado. E a Is Bikini vem do fato de eu morar em frente à praia. Eu queria usar biquínis que não eram vendidos e tinha que encomendar. Então, pensei: mais alguém deve querer biquínis que não existem.
Qual desses negócios foi o seu melhor investimento?
É difícil mensurar, porque são investimentos diferentes, mas a Peça Rara foi o negócio, desde o momento em que eu entrei, que mais cresceu. Eu entrei com 17 lojas e o negócio se tornou uma potência. Hoje são 180.
Tem espaço para crescer mais?
Quero ver a Peça Rara se tornar a maior rede de brechós do Brasil, com loja a cada esquina. E que a empresa faça parte da memória das crianças de hoje. Não só porque eu quero que ela seja uma grande marca, mas para que as crianças pensem de forma consciente na hora de consumir o que vão vestir.
O Brasil já avançou nesse sentido?
A moda circular não fazia parte da minha vida. Tenho um closet enorme e, sem dúvida, 98% dele é de peças de segunda mão. Realmente espero que o futuro do consumo seja esse. O mercado de segunda mão cresce hoje muito mais do que o mercado da moda. Cada vez mais pessoas entendem a vantagem do consumo consciente. Não só pelo planeta, mas pelo bolso também.
Mas ainda há um apelo forte das grandes marcas pelo novo.
Hoje já tem loja de artigos usados só de luxo. Se você comprar no mercado de luxo de segunda mão pela primeira vez, dificilmente vai querer pagar o preço cheio depois sabendo que tem uma bolsa igualzinha que foi usada três vezes bem mais barata. E, além disso, tem um planeta gritando por ajuda, que não é infinito. Mais cedo ou mais tarde, vamos ter que repensar de forma séria a nossa forma de consumo atual.
RAIO-X
Deborah Secco, 45
A atriz começou sua carreira aos 8 anos. Ela já interpretou diversos personagens em novelas, filmes e peças de teatro. Recentemente, tem se dedicado a trabalhos como apresentadora e à carreira de empreendedora, sendo sócia de cinco empresas.
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