A posição de Donald Trump em fortalecer a cadeia do petróleo nos EUA e as barreiras erguidas pela União Europeia ao etanol de segunda geração fizeram o bilionário Rubens Ometto amargar uma queda de 7,65% nas ações da Raízen. Os papéis bateram R$ 1,69 nesta quarta (5), a marca mais baixa da história.
O revés foi percebido com mais intensidade nesta semana pelo mercado, que já tem pressionado a ação faz um tempo. De janeiro até esta quarta, a ação acumula queda de 21,76% e, em 12 meses, recua 54,93%.
No momento em que tenta reduzir sua dívida, Ometto enfrenta dois reveses em seu ousado plano de construir 20 usinas de etanol de segunda geração até 2030.
O modelo escolhido usa biomassa para abastecer a usina que fabrica o etanol celulósico à base de cana (feito com bagaço). Nos EUA, que prefere o etanol de milho, essa produção ocorre tendo o gás natural como insumo da produção do combustível.
Por ter uma pegada de carbono menor, a Raízen acreditou que conseguiria um bônus na venda de seu etanol para os EUA e Europa. Ou seja: apostando na transição energética, o mercado pagará mais por um combustível mais limpo.
No entanto, isso não ocorreu e os investidores começaram a perceber que o investimento realizado pelo grupo de Ometto não conseguirá a amortização planejada com a rentabilidade obtida sem o bônus.
Diante desse cenário, a Raízen demitiu boa parte de sua equipe de sustentabilidade, em um movimento que começou no ano passado, logo após a saída do então CEO da companhia, Ricardo Mussa, que tinha um foco maior nessa pauta. Essa divisão é responsável pelos biocombustíveis e pela transição energética.
Consultada, a Raízen não quis comentar.
Endividamento
Na última quinta (30), a empresa comunicou seus acionistas que a agência de classificação de risco S&P Global Ratings revisou a perspectiva da empresa de “estável” para “negativa”.
Segundo a agência, tanto a subsidiária Raízen quanto a Cosan fizeram investimentos significativos nos últimos anos e, agora, a alta dos juros pressionam o balanço da companhia.
Como resultado, a alavancagem (relação entre dívida e resultado) das empresas subiu excessivamente.
A venda das ações da Vale ajudaram com R$ 9 bilhões, mas, agora, o que está em jogo são as receitas futuras para investimentos realizados em usinas de etanol de segunda geração, o chamado etanol celulósico.
No começo deste ano, o BNDES aprovou um financiamento de R$ 1 bilhão para a Raízen construir uma unidade de etanol de segunda geração no estado de São Paulo, com capacidade instalada de até 82 milhões de litros por ano. O projeto agora tem futuro incerto.
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