Pari, na região central de São Paulo, é o distrito com o maior número de moradores que trabalham na informalidade. De 9.860 trabalhadores, 43,3% se enquadram na categoria. Em Bom Retiro e na Vila Maria, também no centro, e em Marsilac e Parelheiros, bairros do extremo sul, a informalidade também supera 40% da força de trabalho.
A análise é da Folha e foi realizada a partir de dados sobre emprego que constam na Pesquisa Destino Origem de 2023, divulgada na terça-feira (11) pelo Metrô (Companhia do Metropolitano de São Paulo).
A pesquisa é um amplo levantamento sobre mobilidade, mas inclui perguntas sobre a condição empregatícia dos entrevistados, o que permite a geolocalização das áreas com mais informalidade. O levantamento é amostral e ouviu todas as pessoas de mais de 12 anos de 32 mil domicílios da capital e da região metropolitana.
O Metrô divide os trabalhadores entrevistados em nove tipos: assalariado com carteira, assalariado sem carteira, funcionário público, profissional liberal, autônomo com CNPJ, autônomo sem CNPJ, empregador, dono de negócio familiar e trabalhador familiar.
Para a análise, a reportagem fez um recorte restrito, considerando trabalhador informal apenas os assalariados sem carteira e os autônomos sem CNPJ, porque invariavelmente estão nessa posição. Há outros casos possíveis de informalidade, como o trabalhador familiar, por exemplo, mas a pesquisa considerou apenas uma resposta dos entrevistados.
Dos 96 distritos paulistanos, a maior parte (42 deles) têm entre 20% e 30% de residentes cujo trabalho é informal. Áreas de perfil econômico diverso pertencem a esse grupo, como Mandaqui, Belém, Cidade Ademar, República, Ipiranga, Morumbi, Barra Funda, Pinheiros e Mooca.
O segundo maior grupo, de 26 distritos, está no intervalo de 10% a 20% de informalidade. Estão nesse conjunto as áreas mais ricas da cidade, como Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, Jardim Paulista e Alto de Pinheiros.
Já na faixa de 30% a 40% de informalidade, situam-se 22 distritos, sendo Sé, Grajaú, Capão Redondo, Tremembé, Anhanguera e Brás alguns deles.
O distrito com o menor percentual de trabalho informal é a Saúde, na zona sul, com 9,2% –única área com registro inferior a 10%.
Neste recorte que considera assalariados sem carteira assinada e autônomos sem CNPJ, São Paulo tem uma informalidade de 25,5%. O maior percentual é visto em Juquitiba (43,6%), seguido de Biritiba-Mirim (42%) e de Santa Isabel (40,7%).
Já as cidades metropolitanas com menores taxas são Osasco, São Caetano do Sul e Santana de Parnaíba, com 20,5%, 19,1% e 14,4%, respectivamente.
O Metrô destaca que esses números podem ser maiores, já que empregadores, donos de negócio familiar e trabalhadores familiares também podem atuar sem registro.
No Brasil, a taxa de informalidade é de 39%, de acordo com Pnad Contínua de 2024, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e em São Paulo, de 30%. Apesar de alto, o índice é mais baixo que o da América Latina, que alcança 47,6%, conforme a OIT (Organização Internacional do Trabalho). Nos países de alta renda, a informalidade fica em torno de 13%.
Para André Mancha, doutor em economia e gerente no J-PAL (Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab), organização que atua no combate à pobreza global por meio de políticas públicas, ao menos dois fenômenos claros ajudam a explicar a distribuição territorial da informalidade na capital paulista, com altas concentrações no extremo sul e no centro da cidade.
Um é que existe uma correlação entre renda, escolaridade e formalidade, portanto é de se esperar que em bairros ricos predominem os empregos formais. Outro é que, mesmo diante da eventual possibilidade de um emprego formal, o trabalhador da periferia pode optar pela informalidade diante do custo de deslocamento a áreas com essas ofertas.
“Por mais que exista uma oferta de emprego formal, o morador vai ter duas ou três horas de transporte, vai pagar o transporte, a alimentação, há um custo financeiro e de tempo que talvez não compense”, afirma. “A informalidade é maior para mulheres e maior ainda para mulheres negras, que preferem uma vaga informal a um emprego formal muito longe de casa e do cuidado dos filhos.”
Segundo o IBGE, 76,4% dos trabalhadores domésticos em 2023 não tinham carteira assinada.
Já a alta concentração informal no centro de São Paulo, local de comércio e serviços pujantes, pode ser consequência dos próprios custos que a formalização acarreta. “Há um grande número de firmas que prefere não expandir e se formalizar diante de todas os custos e obrigações legais e tributárias”, afirma o economista.
Ele acrescenta que, apesar de todas as restrições da ausência de um registro de trabalho, como acesso a empréstimo e outros serviços bancários, a cadeia de fornecedores que atuam sem nota fiscal permite a manutenção desse ciclo de informalidade em locais com o centro de São Paulo.