Trump suspende tarifas sobre Canadá por um mês – 03/02/2025 – Mercado

Trump suspende tarifas sobre Canadá por um mês – 03/02/2025 – Mercado

Dois dias após consolidar suas ameaças e assinar um decreto para tarifar produtos importados do México e do Canadá, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma pausa de um mês na taxação. Isso depois ter costurado acordos para reforçar a segurança nas fronteiras com os dois países com cerca de 20 mil agentes.

Trump publicou no sábado (1º) uma ordem segundo a qual os bens estrangeiros seriam alvo de uma cobrança extra de 25% a partir desta terça (4), que agora fica congelada por 30 dias. A única exceção aos produtos importados seriam petróleo e energia vindos do Canadá —itens dos quais os EUA são mais dependentes e que teriam uma taxa menor, de 10%.

O presidente dos EUA também impôs uma tarifa de 10% sobre a China que ainda deve entrar em vigor.

A manobra demonstrou a disposição de Trump em usar tarifas como barganha ante parceiros comerciais importantes, apesar de potenciais efeitos negativos para a própria economia americana. As importações de México, Canadá e China representam mais de um terço dos produtos comprados pelos Estados Unidos (mais de US$ 1 trilhão em mercadorias por ano).

Economistas preveem que as tarifas e as medidas retaliatórias esperadas podem aumentar a inflação e perturbar as cadeias de suprimento globais.

A justificativa para a medida, alardada desde a campanha presidencial, é que as nações vizinhas permitiram entrada descontrolada de imigrantes e drogas, particularmente o fentanil, para os Estados Unidos.

A ordem provocou efeitos imediatos. Canadá e México ameaçaram retaliar, inclusive cobrar tarifas em contrapartida. O mercado financeiro amanheceu nesta segunda-feira (3) sob forte efeito da medida anunciada por Trump, com Bolsas abrindo em queda e o dólar subindo pelo mundo.

Pela manhã, o peso mexicano caiu 2,9%, a 21,28 por dólar, nível mais baixo em quase três anos. Mais tarde, se recuperou e fechou com alta de 1,7%, a 20,33. O dólar canadense chegou a cair para o menor valor em 22 anos, de 1,47 por dólar americano, mas fechou com alta de 0,7%, a 1,44.

Ainda pela manhã, Trump conversou com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, e anunciou que seguraria a aplicação das tarifas por um mês por meio de uma mensagem publicada na sua rede social Truth Social.

Segundo ele, durante o período de suspensão das tarifas, serão realizadas negociações com o país vizinho, lideradas pelo secretário de Estado Marco Rubio, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick.

“Estou ansioso para participar dessas negociações com a presidente Sheinbaum, enquanto tentamos alcançar um ‘acordo’ entre nossos dois países”, publicou Trump.

Sheinbaum afirmou em publicação no X que os EUA se comprometeram a “evitar o tráfico de armas de alto poder para o México”. Ela anunciou que o México mobilizará 10 mil militares para reforçar a segurança na fronteira e tentar controlar o fluxo de drogas.

“Nossas equipes começarão a trabalhar hoje mesmo em duas frentes: segurança e comércio”, escreveu a presidente mexicana.

Mais tarde, Trump anunciou um acordo com o Canadá, após duas conversas pelo telefone com o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau. O canadense concordou em enviar “10 mil funcionários da linha de frente” para a fronteira para “parar o fluxo de fentanil”.

No X (ex-Twitter), o primeiro-ministro canadense disse que teve uma boa conversa com Trump e que o Canadá implementará um plano de US$ 1,3 bilhão para proteger as fronteiras.

“O Canadá vai assumir compromissos para nomear um Czar do Fentanil, listaremos cartéis como terroristas, garantiremos fiscalização 24 horas por dia, sete dias por semana na fronteira, lançaremos uma Força de Ataque Conjunta Canadá-EUA para combater o crime organizado, o fentanil e a lavagem de dinheiro”, escreveu.

Trump confirmou em uma postagem no Truth Social que a suspensão ocorre “para ver se um acordo econômico final com o Canadá pode ser estruturado ou não”.

“O Canadá concordou em garantir que tenhamos uma fronteira norte segura e, finalmente, acabar com a praga mortal de drogas como o fentanil, que têm entrado em nosso país, matando centenas de milhares de americanos e destruindo suas famílias e comunidades em todo o nosso país”, escreveu.

Grupos empresariais canadenses receberam bem o fato de Ottawa e Washington terem conseguido chegar a um acordo de última hora.

“É um grande alívio conseguir um acordo, especialmente considerando que isso ocorre após o fechamento dos mercados e das fábricas,” disse Flavio Volpe, presidente da Auto Parts Manufacturers Association (associação de fabricantes de peças automotivas), ao jornal Financial Times.

A prorrogação de 30 dias significa que o acordo expiraria nos últimos dias de Trudeau no cargo (um novo primeiro-ministro deve ser escolhido em 9 de março), o que torna as negociações incertas.

Apesar de ter costurado acordos com Canadá e México, em tese, as tarifas de 10% aplicadas a China ainda não haviam sido revertidas até o início da noite desta segunda-feira (3). Pela manhã, Trump disse que conversaria com o presidente chinês, Xi Jinping. Por volta das 18h dos EUA (20h no Brasil), a Casa Branca não havia feito nenhum anúncio nesse sentido.

No final de semana, a China anunciou que questionará as tarifas de Trump por meio da OMC (Organização Mundial do Comércio).

“A imposição de tarifas pelos EUA viola seriamente as regras da OMC”, afirmou o Ministério do Comércio chinês em um comunicado, instando os EUA a fazer um diálogo franco e fortalecer a cooperação.

O Ministério das Relações Exteriores da China se pronunciou sobre o fentanil. De acordo com as autoridades chinesas, o país tomou medidas abrangentes para combater o problema. “O fentanil é um problema dos Estados Unidos”, disse a pasta.

Trump também tem indicado que pode mirar a União Europeia, composta por 27 nações, como a próxima a ser alvo de tarifas, mas sem especificar quando, o que já provocou reação das nações.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse nesta segunda após uma reunião do bloco que quer um diálogo construtivo com os EUA, mas que está pronta para responder à altura.

“Há claramente novos desafios e novas incertezas, e quando visada de forma injusta ou arbitrária, a União Europeia responderá firmemente”, disse von der Leyen.

Colaboraram Gustavo Soares e Helena Schuster. Com Financial Times e The New York Times

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